Filosofia do ato: reflexões de Ponzio e Faraco*


Camila Cristina de Oliveira Alves
Carolina Reis
Slovo – UNESP/FCLAr

*O texto abaixo trata-se de um pequeno relato das discussões de nosso grupo de estudos em 20/03/2013 sobre o prefácio e o posfácio do livro “Para uma filosofia do ato responsável” de Bakhtin.

Segundo Ponzio (2010), Para uma filosofia do ato responsável relata o trabalho de Bakhtin, juntamente com os escritos dos anos 1920, publicados na coletânea de 1979 com o título “O autor e o herói na atividade estética”, em especial o primeiro capítulo.
O livro é o início de um grande projeto filosófico do Círculo Bakhtin e é dividido em dois fragmentos: a introdução; e um segundo fragmento denominado “Primeira parte”. Na introdução, o projeto filosófico parece especificar-se como a realização de uma filosofia moral. A obra tem uma linguagem filosófica contemporânea da Europa Ocidental, particularmente a alemã. O termo “arquitetônica” (usado por Kant), por exemplo, equivale à estrutura, construção, muitas vezes de caráter dinâmico e singular, concebido como “evento”: estrutura arquitetônica. (p. 16).
Na introdução, Bakhtin fala do problema de se entender o caráter do evento único, singular e irrepetível que caracteriza o ato como unidade da existência humana. Questiona se tal ato, quando determinado por um ponto de vista teórico (científico, filosófico) ou estético, perde seu caráter de evento único, assumindo um valor genérico de significado abstrato. Em resumo: vai questionar a singularidade do ato.
Nas relações sociais há a separação entre dois mundos (impenetráveis e incomunicáveis): O mundo da vida vivida e o mundo da cultura, do social, feito das relações entre identidades. (p. 19).
  • Mundo da vida (da ética): singularidade do sujeito, sua unicidade, peculiaridades das suas relações. Essa singularidade é obtida nas relações pessoais de afeto, amor e amizade.
  • Mundo da cultura (da estética): são as trocas entre os indivíduos que representam identidades, classes sociais, comunidades etc.
Um valor universal só é reconhecido como tal pela sua correlação com o lugar singular daquele sujeito que participa, determina e reconhece esse valor (p. 20). O que unifica os dois mundos (da vida e da cultura) é o evento único do ato singular, não indiferente, participativo. Para Bakhtin, na singularidade do ato está a possibilidade da religação entre cultura e vida; entre consciência cultural e consciência viva (p. 25). A filosofia moral, que Bakhtin chama de “filosofia primeira”, deve descrever a arquitetônica concreta em que a indiferença do indivíduo abstrato, substituível na sua responsabilidade pertence a um todo, a um gênero. (p. 27).
Faraco (2010), por sua vez, descreve o livro Para uma filosofia do ato responsável  como um rascunho fragmentário, no qual Bakhtin apresenta as coordenadas que sustentarão suas ideias e conceitos que ainda estariam por vir: “[...] em PFA encontramos o autor esquentando os músculos para a grande caminhada de meio século que se seguirá” (p.148). Embora o texto apresente esse caráter de rascunho fragmentário, bem como um estilo repetitivo, é necessário que o leitor tente captar no texto as respostas bakhtinianas aos temas que provocam suas reflexões.
PFA, segundo Faraco, se divide em três blocos: no primeiro Bakhtin critica o teoricismo, a abstração excessiva das teorias de sua época; no segundo o autor apresenta uma fenomenologia do ato responsável, ato que se realiza no interior da atividade vivida: “viver é tomar posição axiológica a cada momento; é posicionar-se frente a valores” (FARACO, 2010, p.153); no terceiro bloco Bakhtin oferece uma análise do mundo da visão estética, deixando suas reflexões finais e norteando seus próximos passos:
[Bakhtin] escolhe a arte justamente porque, embora ela esteja entre os mundos culturalmente abstratos, está, ao mesmo tempo, pelos tons emotivo-volitivos, mais próxima do mundo da vida. O desdobramento dessa análise vai ser feita, extensivamente, no texto seguinte (Autor e herói na atividade estética) que, pelo que parece, comporia, com PFA, seu grande tratado de filosofia moral e estética. (FARACO, 2010, p.157)

REFERÊNCIAS:

BAKHTIN, M. Para uma filosofia do ato responsável. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010.

FARACO, C. A. Um posfácio meio impertinente. In: BAKHTIN, M. Para uma filosofia do ato responsável. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010. p.147-158.

PONZIO, A. A concepção do ato como dar um passo. In: BAKHTIN, M. Para uma filosofia do ato responsável. São Carlos: Pedro & João Editores, 2010. p.9-38.

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